08 dezembro 2011

O Cavalo e o Burro por Monteiro Lobato

          O cavalo e o burro seguiam juntos para a cidade.  O cavalo contente da vida, folgando com uma carga de quatro arrobas apenas, e o burro — coitado!  gemendo sob o peso de oito.  Em certo ponto, o burro parou e disse:
          — Não posso mais!  Esta carga excede às minhas forças e o remédio é repartirmos o peso irmãmente, seis arrobas para cada um.
        O cavalo deu um pinote e relichou uma gargalhada.
        — Ingênuo!  Quer então que eu arque com seis arrobas quando posso tão bem continuar com as quatro?  Tenho cara de tolo?
        O burro gemeu:
         — Egoísta,  Lembre-se que se eu morrer você terá que seguir com a carga de quatro arrobas e mais a minha.
         O cavalo pilheriou de novo e a coisa ficou por isso.  Logo adiante, porém, o burro tropica, vem ao chão e rebenta. 
        Chegam os tropeiros, maldizem a sorte e sem demora arrumam com as oito arrobas do burro sobre as quatro do cavalo egoísta.  E como o cavalo refuga, dão-lhe de chicote em cima, sem dó nem piedade. 
         — Bem feito!  exclamou o papagaio.  Quem mandou ser mais burro que o pobre burro e não compreender que o verdadeiro egoísmo era aliviá-lo da carga em excesso?  Tome!  Gema dobrado agora…

Monteiro Lobato, José Bento, Taubaté, SP, 1882 – 1948, escritor, contista, dedicou-se à literatura infantil.

3 comentários:

Carlos Cardoso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Cardoso disse...

Realmente, e cavalo como esse tem aos montes. Fazer o q...

Naná Martins disse...

Verdade, lindo. O que impressiona é o tema, sua escrita e o tempo a que se refere, e como ainda se aplica perfeitamente na atualidade. Grande Lobato. ; ) Beijocas