28 novembro 2012

Histórias que chegam

A chaleira apitava na cozinha. Levantei da cama sonambulando. Um café cairia bem. Não lembrava de ter colocado a chaleira no fogo. Na sala ouvi um novo apito vindo do corredor. Olhei de beirada esticando o olhar pelo portal. O vento despenteou meus cabelos e espalhou meus manuscritos que estavam sobre a mesa. Havia uma estação de trem na sala com fumaça e tudo. Uma composição abriu as portas para desembarque. Do terceiro vagão desceu um passageiro com ares de cidadão europeu da década de 50. Ele sorriu em minha direção com contentamento e esticou a mão em cumprimento dizendo: - Vim ficar um tempo por aqui. Como? Respondi abestalhada com o inusitado. Flash na situação: ainda estava de roupão, descabelada, com uma xícara de café nas mãos, um estação na sala e um desconhecido como visitante. Aliás, um invasor. Interrupção do flash. O homem pega a xícara de café e agradece. Sorri sentando-se em seguida no sofá colocando o chapéu ao seu lado. - Anime-se. Temos muito trabalho a fazer. Disse ele. Só irei depois que você escrever. O quê? Escrever? Perguntei. - Sim. Escrever. Sirva-se de um pouco de café. Está fresco. Ofereceu o homem a minha própria bebida matinal. Ah, sim. Mais um personagem. Identifiquei. Não raro aparecem desse jeito. : ) Coloquei a chaleira no fogo. O jeito era fazer mais café.
 

Por Naná Martins

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