A chaleira apitava na cozinha. Levantei da
cama sonambulando. Um café cairia bem. Não lembrava de ter colocado a
chaleira no fogo. Na sala ouvi um novo apito vindo do corredor. Olhei
de beirada esticando o olhar pelo portal. O vento despenteou
meus cabelos e espalhou meus manuscritos que estavam sobre a mesa.
Havia uma estação de trem na sala com fumaça e tudo. Uma composição
abriu as portas para desembarque. Do terceiro vagão desceu um passageiro
com ares de cidadão europeu da década de 50. Ele sorriu em minha
direção com contentamento e esticou a mão em cumprimento dizendo: - Vim
ficar um tempo por aqui. Como? Respondi abestalhada com o inusitado.
Flash na situação: ainda estava de roupão, descabelada, com uma xícara
de café nas mãos, um estação na sala e um desconhecido como visitante.
Aliás, um invasor. Interrupção do flash. O homem pega a xícara de café e
agradece. Sorri sentando-se em seguida no sofá colocando o chapéu ao
seu lado. - Anime-se. Temos muito trabalho a fazer. Disse ele. Só irei
depois que você escrever. O quê? Escrever? Perguntei. - Sim. Escrever.
Sirva-se de um pouco de café. Está fresco. Ofereceu o homem a minha
própria bebida matinal. Ah, sim. Mais um personagem. Identifiquei. Não
raro aparecem desse jeito. : ) Coloquei a chaleira no fogo. O jeito era
fazer mais café.
Por Naná Martins
Nenhum comentário:
Postar um comentário